« Home | Whisky ou vinho branco? Tragédia ou comédia? » | Os sem-floresta – Over the Hegde » | A Noiva Síria - Ha-Kala Ha-Surit » | Finais Felizes - Happy Endings »

Pela Honra e Humildade


Rodolfo Mendes



O “Samurai do Entardecer” é cheio de pequenas ironias que seriam melhores aproveitadas se o espectador tivesse um bom conhecimento sobre a guerra pela qual o Japão passou na década de 1860. Mas isso é apenas um pequeno bônus se comparado ao prato principal que este filme de Yoji Yamada oferece.

A história se passa num período muito peculiar e complicado da história do Japão, a restauração do poder monárquico, que se consolidou apenas com a Guerra Boshin em 1868 quando o xogum (governante militar) devolveu os poderes ao imperador.

Mas o enredo é situado num período que antecede a eclosão da guerra. Seibei Yguchi (Hiroyuki Sanada) é, por assim dizer, um samurai azarado. Sua mulher adoeceu e acabou morrendo de tuberculose, e para não desonrar a família da falecida (de um padrão de vida mais elevado que a tua), Seibei arca com um funeral além de suas posses. Assim, acaba ficando endividado e com duas filhas pequenas para cuidar. Por não poder ficar bebendo com os amigos após o trabalho para ir cuidar das filhas, ele acaba ganhando o apelido de Samurai do Entardecer.

Em casa, Seibei distribui seu tempo entre os cuidados com as filhas e com a fabricação de pequenas gaiolas, que vende para complementar o orçamento da família e para pagar as dívidas. Logo não sobra tempo para os cuidados pessoais, e ele fica constantemente sem tomar banho e com as roupas rasgadas, fato que lhe deixa com a imagem ruim diante de seus superiores.

O dia a dia desse samurai muda com a chegada de uma amiga de infância recém divorciada de seu virulento marido. Ela ajuda Seibei cuidando de suas filhas enquanto este fica encarregado dos afazeres de samurai no palácio do clã.

A beleza do filme encontra-se na fidelidade com a época que busca retratar e na singela figura do protagonista. O Japão é ainda aquele dividido em castas e cheio das diversas obrigações de quem nele vive, e Seibei é um samurai que honra com todas essas obrigações de forma limpa e sincera. Contudo, ele se mostra maior do que isso. Tanto na educação de suas filhas quanto em sua postura diante de diversas tradições da época, Seibei se mostra um homem mais tolerante, flexível e aberto, ilustrando perfeitamente como a tradição e a modernização poderiam coexistir na nova era que iria chegar.

O filme merecia ter mais tempo para narrar a parte final da história, que fica sendo meramente contada por uma das filhas já adulta. As poucas cenas de luta, feitas segundo o figurino de um bom filme de samurai, deixam sobressair apenas pequenos defeitos que somente alguém entendido do assunto consegue perceber.

O desfecho não fica nem longe nem perto dos clichês do gênero, a sensação que fica é a de se ter assistido a uma história digna de ser tornar lenda.

O Samurai do Entardecer (Tasogare Seibei)
Japão, 2002. Direção: Yoji Yamada Elenco: Hiroyuki Sanada, Rie Miyazawa e Reiko Kusamura Duração: 129 min