6.6.06

Finais Felizes - Happy Endings

Rafael Teixeira



Várias histórias paralelas que no final acabam se cruzando e dando reviravoltas inesperadas. Tá bom, muitos filmes já se utilizaram dessa técnica para desenvolver seu roteiro. Então o que há de diferente em "Finais Felizes", do diretor e roteirista Dan Ross (responsável pelo inusitado “O Oposto do Sexo”), para que mereça um espaço como esses, de alguns bons caracteres, e minha veemente recomendação?

Talvez o fato de “Finais Felizes” ser um conjunto de três tramas bem peculiares, contadas de uma forma crua, verdadeira e sem qualquer tentativa de aliviar a dureza dos fatos. Calma! O filme não é um drama... Não completamente.

Uma de suas características marcantes é o seu humor sarcástico, ás vezes negro, que permeia todas as cenas. No desenrolar do filme, porém, o clima vai se tornando denso, e reflexões mais sérias tornam-se inevitáveis. Nessas tramas personagens vulneráveis buscam alguma forma de felicidade, mesmo que para isso tenham que se esconder atrás de mentiras.

Na primeira história Mamie (Lisa Kudrow) acaba engravidando do meio-irmão Charley (Steve Coogan) e decide fazer um aborto. No último instante, no entanto, desiste e entrega o filho para adoção. Os dois irmãos nunca mais tocam no assunto e prosseguem suas vidas. É a primeira das mentiras.

Muito tempo depois, Nicky (Jessé Bradford), um jovem aspirante a diretor de cinema, procura e chantageia Mamie com informações sobre o paradeiro do seu bebê. Nicky quer produzir um documentário sobre o reencontro dos dois como trabalho para entrar no American Film Institute (AFI). Mamie e seu namorado Javier, um massagista e imigrante ilegal mexicano, tentam convencer Nicky a mudar o tema de seu filme para a vida do próprio Javier, que finge prestar serviços sexuais. Mais algumas mentiras.

Charley, por sua vez, descobre-se gay e está em um relacionamento sério com Gil (David Sutcliffe), que doou seu esperma para um casal de amigas lésbicas: Pam (Laura Dern) e Diane (Sarah Clarke). A tentativa com o esperma de Gil falha, mas Charley ainda desconfia que o bebê do casal é produto desse falso fracasso. Mentiras e mais mentiras.

Na última trama, Jude (Maggie Gyllenhaal) entra para banda do baterista Otis (Jason Ritter), um jovem homossexual, e acaba usando-o para tentar dar um golpe no rico pai de Otis, que desconhece a opção sexual do filho. Nem precisa repetir: mentiras.

As três tramas se desenvolvem de maneira própria e em um dado momento acabam se cruzando. É possível dizer que antes de o filme acabar o placar de mentiras já elevou-se estratosfericamente. Não obstante, pouco a pouco as mentiras vão sendo demolidas por uma vontade maior de se apegar à afeição humana, de se aproximar do outro, de achar um final feliz.

Nesse filme, além dos dez personagens principais, há outra presença marcante: o próprio narrador, que esclarece informações, tece comentários e revela o futuro dos personagens através de telas negras que interrompem algumas das cenas. Cada uma delas é certeza de boas risadas. O filme também traz um grande elenco com atuações extremamente convincentes. Destaques para Maggie Gyllenhaal, que além de sua fantástica atuação, empresta sua voz nas músicas cantadas pela sua personagem, e Lisa Kudrow, que impressiona por representar um papel mais sério depois de anos como a bufônica Phoebe no seriado de televisão Friends.

Finais Felizes - Happy Endings
EUA, 2005.Direção: Don Roos Elenco: Lisa Kudrow, Steve Coogan, Jesse Bradford, Maggie Gyllenhaal e Jason Ritter Duração: 128 min.