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Nada Poderoso

Rafael Benaque

Em sua primeira aparição, Deus emprestou seus poderes para o fracassado repórter Bruce Nolan (vivido por Jim Carrey, fora da seqüência). Dessa vez, o todo poderoso (que encarna em Morgan Freeman) resolve dar uma lição no rival de Bruce, o âncora de telejornal recém-eleito para o congresso norte-americano, Evan Baxter (Steve Carrel, de Pequena Miss Sunshine).

“A Volta do Todo Poderoso” começa na despedida de Evan da televisão, quando este se muda para uma bela casa em Washington. Lá, coisas estranhas acontecem, como o relógio (da marca Gênesis) que sempre desperta às 6:14, mesmo programado para tocar às 7:00, ou então as ferramentas e tábuas de madeira que são enviadas para a casa do novo congressista . Como Evan insiste em ignorar esses sinais, Deus entra em cena para comunicar que ele deve construir uma nova arca de Noé (se você, como eu, não conhece a Bíblia, o versículo 14 do capítulo 6 do Gênesis é: “Faze para ti uma arca de madeira resinosa: dividi-la-ás em compartimentos e a untarás de betume por dentro e por fora”).

Mas a tarefa não para por aí: a barba de Evan cresce sem parar, Deus o obriga a usar uma túnica em farrapos e faz com que os animais o sigam para todos os lugares, com direito a transformação do gabinete do ex-âncora em viveiro de pássaros. Com isso, perde seu emprego e é abandonado por sua mulher, Joan Baxter (Lauren Grahan, a Lorelai do seriado Gilmore Girls) e seus três filhos.

Depois do primeiro filme que, apesar de controvérsias arrancou boas risadas do público de modo geral, criou-se uma expectativa em torno de “A Volta do Todo Poderoso”. Porém o filme é extremamente idiota, sem-graça e repetitivo. Uma cena, por exemplo, mostra Evan acertando o dedo com um martelo e caindo de cima das tábuas de madeira dezenas de vezes seguidas. Na primeira vez, até é engraçado, mas depois da (sem exagero) décima vez... Realmente, misturar pastelão com humor por repetição não funciona. Além disso, o filme insiste em ter uma mensagem moralizante. Qual é o propósito disso? A inundação em Washington é muito mais profunda que a moral dessa fábula.


Apesar de tudo isso, o filme tem algumas coisas positivas. Em primeiro lugar, merece destaque o trabalho de adestramento dos animais, que se comportam muito bem durante as filmagens. Outro ponto alto é a trilha sonora que, além de contar com diversos spirituals (músicas religiosas bem no estilo de Mudança de Hábito), também causa humor quando toca “Sharp Dressed Men” do ZZ Top com o Evan tentando vestir o terno sobre a túnica. Essa cena e mais duas ou três piadas são os únicos momentos que o filme te faz rir de verdade, isto é, achar graça sem pensar “que negócio imbecil!”.

“A Volta do Todo Poderoso” é um daqueles filmes pra ser assistido se você tem o dinheiro da entrada do cinema e da pipoca sobrando, além de um tempinho pra jogar fora. Do contrário, fique em casa. Perde-se menos.


A Volta do Todo Poderoso (Evan Almighty)
EUA, 2007
Direção: Tom Shadyac Elenco: Steve Carrel, Morgan Freeman, Lauren Grahan e John Goodman. Duração: 90 min.