« Home | Vidas Vazias » | Um é pouco, dois é bom e três... » | Verde é a cor de dinheiro, verde é a cor da sorte » | Além de véus e orações » | Não resolvido » | Uma "cigana" a solta » | No fim do mundo... E no fim da trilogia » | Mais que sonhadores » | Casos do acaso » | Um pouco de realidade »

Nada fantástico

Rafael Teixeira

Engana-se quem ainda acha que quadrinhos são assunto de crianças ou nerds sem vida social, cheios de espinhas na cara. Não só já passaram desses estereótipos arquétipos, como se tornaram uma indústria extremamente lucrativa. E difundida. Na era dos graphic novels (romances em quadrinhos) e dos HQs elevados a categoria de arte, é impossível desconsiderar a importância cultural desse nicho.

Diversão, sim. Mas mais que isso, os quadrinhos se tornaram um novo meio para discutir temas importantes através de metáforas e histórias inusitadas. O único problema é que geralmente a diversão acaba ofuscando um pouco dessa profundidade. O mesmo acontece com o novo movimento de adaptação de histórias em quadrinhos para a grande tela. Mostrou-se de fato, que transpor as hqs para a sétima arte pode potencializar o fator “ridículo” de suas histórias.

E aí entramos nas recorrentes exceções, como Homem-Aranha, X-Men na esfera de quadrinhos regulares, e V de Vingança e Sin City na área de Graphic Novels. Todas, aparentemente, conseguiram um certo sucesso em mostrar assuntos relevantes (“com grandes poderes vem grandes responsabilidades”, aceitar o que é diferente, lutar pela liberdade, etc) sem deixar de lado a ação e os colants coloridos. Só que a família de super-heróis mais famosa dos quadrinhos não se inclui nessa categoria.

Uma das mais bem sucedidas produções de Stan Lee, O Quarteto Fantástico conta a história de quatro pessoas que partem e uma viagem espacial e acabam sendo atingidos por uma tempestade solar e adquirem superpoderes como conseqüência desse acidente. Nas telonas, a família fantástica acabou ganhando um primeiro filme despretensioso, de baixo orçamento se comparado aos dos seus companheiros mutantes e do cabeça de teia. Poucos minutos de projeção para contar a história de Reed Richards (o Senhor Fantástico e sua habilidade elástica), Susan Storm (a Mulher Invisível com o poder de criar campos de força e invisibilidade), seu irmão Johnny Storm (Tocha Humana, com sua pirotecnia) e Bem Grimm (o Coisa, superforça e corpo rochoso) e a dificuldade de se manter uma família e uma vida normal com superpoderes... Além de toda a exposição da mídia. O drama, porém, não conseguiu emplacar, e o que marca mesmo é a comédia feita com o uso que cada um deles faz de seus poderes no dia-a-dia.

Em Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, a família de super-heróis retorna para enfrentar uma ameaça intergaláctica que destruirá a terra em oito dias. Para avisar de sua chegada, essa entidade envia seu arauto denominado pelos humanos de Surfista Prateado (corpo digital de Doug Jones e voz de Laurence Fishburn). Enquanto tentam lidar com todos esses problemas, os quatro tem de continuar convivendo com as conseqüências de serem um grupo de heróis conhecidos: Reed (Ioan Gruffudd) tenta se dedicar ao seu casamento com Sue (Jéssica Alba), enquanto essa entra em conflito com sua vida como heroína e a vontade de ter uma vida comum; Johnny Storm (Chris Evans) começa a sair de seu mundo de futilidades e pensa em buscar algo mais significante, enquanto Bem (Michael Chiklis) se torna um coadjuvante com papel humorístico e sentimental.

O filme tenta trazer algum drama para história desses personagens, que possuem tanta profundidade nas suas páginas nos quadrinhos, mas acaba sendo uma continuação do erro de seu precedente, e tudo que parece restar de notável são os efeitos especiais e a graça que Tim Story faz das habilidades de cada um. A carga dramática repousa, mesmo que fragilmente, no personagem e na história do Surfista Prateado, que vive a sina de um vilão forçado, que precisa tomar uma decisão drástica para se libertar.

Para os fãs, vale a pena notar a silhueta do capacete do Galactus (a tal entidade que vai destruir a Terra) no turbilhão espacial que está prestes a engolir o nosso planeta. Para aqueles que odeiam a Jéssica Alba, prestem atenção apenas no corpo da garota, porque dessa vez, além de uma atuação sofrível, a moça parece uma criança de oito anos interpretando o que deveria ser uma heroína de garra. Sem contar no seu cabelo mal escovado e mal tingido (mulheres, não reparem no couro cabeludo loiro). Para as feministas, relevem o fato de que Sue Storm, uma das heroínas mais conhecidas da Marvel, foi reduzida a uma “noivazilla” e quase a “dona de casa/tiazona/mulher fútil invisível”. Para os que odiaram a dança do Tobey Maguire no terceiro filme do Homem-Aranha, sintam vergonha alheia pela dança elástica e flexível do senhor fantástico logo no começo do longa. Para quem gosta de carros velozes, presenciem a estréia do “Fantasticarro”, veículo voador e desmontável, que teve seu design assinado pela Dodge. Para quem gosta do Quarteto, não assista ao filme. Para quem gosta de uma comédia com um pouco de ação, assista. Mas sem ação suficiente. E quem não gostar do filme, não se desespere. Ainda há chance da franquia se redimir num terceiro filme... ou não.

Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (Fantastic Four: Rise of the Silver Surfer)

EUA, 2007

Direção: Tim Story Elenco: Ioan Gruffudd, Jessica Alba, Chris Evans, Michael Chiklis, Julian McMahon, Kerry Washington, Andre Braugher, Doug Jones e Laurence Fishburne (voz). Duração: 92 min

Nao vi o filme, mas fiquei curiosa para ve-lo, mas no fim, vc quer ou nao um terceiro filme?

Postar um comentário