Casos do acaso
Diz a sabedoria popular que ninguém está satisfeito com aquilo que tem. As personagens de Um Lugar na Platéia parecem concordar com esse ditado. Jéssica (a carismática e talentosa Cécile de France) é uma garota do interior que se muda para Paris a fim de curar uma dor de cotovelo e acabar com a monotonia de sua vida. Catherine (Valérie Lemercier numa atuação inspiradíssima) é atriz e protagoniza uma popular série de tv, porém não se sente realizada nem com a fama, nem com a fortuna que ganha por episódio do programa. Lefort (Albert Dumontel numa emocionante performance) é um pianista bem sucedido que a cada dia está mais entediado por causa de sua exaustiva rotina de apresentações, ensaios e entrevistas. Grumberg dedicou a vida colecionando obras de arte e repentinamente decide vender todas suas relíquias que possui. Essas personagens e tantas outras têm as vidas entrelaçadas dias antes de três importantes acontecimentos: a estréia da peça de Catherine, o leilão de Grumberg e o concerto de Lefort. Elas se cruzam, se modificam (mesmo que inconscientemente) e são levadas a pensar sobre o que querem realmente da vida.
Sem protagonistas, no melhor estilo de Robert Altman, Um Lugar na Platéia transcende gêneros, fazendo rir e chorar. Com ótimas atuações, personagens críveis e diálogos deliciosos, o filme nos brinda com seqüências formidáveis, como aquela em que Lefort se rebela durante uma apresentação, libertando–se da vida luxuosa que o sufocava, e com esquetes hilárias, como quando Catherine tenta convencer um importante cineasta que é a atriz perfeita para estrelar sua próxima produção, embora os dois tenham visões diferentes sobre a personagem. Valérie Lemercier, por sinal, consegue a proeza de ter uma interpretação por vezes teatral, sem soar ridícula ou “over”.
Acompanhando cada personagem, percebemos que por trás das desilusões, sempre existe um fio de esperança, vemos que é preciso coragem para assumir nossos íntimos desejos e que fazer o que os outros esperam, seguindo convenções pré–estabelecidas, não é garantia nem de felicidade, nem de satisfação. O filme mostra que o acaso faz parte de nossa existência e que as interações que temos uns como os outros, por mais banais que possam parecer, são capazes de ter um efeito decisivo em nosso futuro. Um Lugar na Platéia defende a idéia de que a fama, o conforto e o dinheiro podem ser perigosas prisões que envolvem e ludibriam nossos sentidos, impedindo a percepção de que a felicidade está contida nas coisas simples da vida.
Tendo em mãos uma história simples e aparentemente ingênua, a diretora Daniele Thompson cria uma belíssima crônica do cotidiano. Um Lugar na Platéia mostra que o que move as pessoas é a insatisfação, e o mundo não é necessariamente dividido em palco e platéia.
Um Lugar na Platéia (Fauteuils d'Orchestre)
França, 2005
Direção: Danièle Thompson Elenco: Cécile de France, Albert Dupontel, Valérie Lemercier, Dani e Sydney Pollack Duração: 105 min
Primeiro: tinha q ser rick, não henrique.
Segundo: O parágrafo final está realmente excelente, fecha muito bem a crítica e dá vontade de ver o filme.
Terceiro: Você escreve muito bem e tem uma visão interessante, mas não sabe começar a cítica. O começo é pra ser simples, só precisa dar vontade de continuar a ler, tentativas de ser mto original ou complicar demais no geral empobrecem o texto.
Quarto: gosto da maneira como você desenvolve, sem falar demais sobre a trama mas tbm sem deixar o leitor perdido no que está acontecendo. Chamar a atenção pra uma cena específica tbm é uma fórmula mto usada mas muito boa, porque na primeira vez que você assiste um filme nem sempre vc repara em algumas coisas e uma ajudinha nunca é demais.
Quinto: Eu to criticando mas JAMAIS conseguiria chegar nem perto. Vai em frente que voce tem futuro.
Posted by
Letícia Mori |
2:31 PM