As Cores e os Sons da Cegueira

Rafael Benaque
É difícil ver um filme baseado em fatos reais que não seja romantizado e/ou exagerado. Porém, “Vermelho como o Céu”, que conta como o famoso editor de som Mirco Mencacci perdeu a visão, do diretor Cristiano Bortone, consegue fugir desse padrão. Tudo começa em uma pequena cidade perto de Piza, em 1970. Foi nesse ano que Mirco, então com 10 anos, brincando com a espingarda do pai perdeu a visão e por causa de uma lei italiana da época que afirmava que os cegos não são capazes de freqüentar escolas para “pessoas normais”, o garoto foi transferido para o Instituto Cassoni, um colégio especializado em crianças com deficiência visual.
É nesse instituto que o jovem Mencacci (Luca Capriotti) começa a demonstrar o seu talento para a edição de som. Para realizar um trabalho sobre a natureza, ele, junto com seu amigo Felice (Simone Gullì), rouba um gravador e fitas da sala dos professores, e começa a gravar sons e editá-los. Isso lhe causa problemas com o diretor e desperta o interesse de seu professor Don Giulio (Paolo Sassanelli).
É nesse contexto que se insere o roteiro assinado por Bortone e Paolo Sassanelli que, apesar de caminhar à beira do abismo do clichê moralizante em seu final, se mostra leve e sutil. O diretor Bortone conduz o filme também de forma suave e despretensiosa, sem perder o espectador em nenhum momento. Além do roteiro e direção eficientes, os tons pastéis da fotografia e a trilha sonora, que vai se tornando mais presente e mais intensa com o desenrolar da história, são determinantes para criar uma atmosfera que valoriza a audição em detrimento da visão.
“Vermelho como o Céu”, vencedor do prêmio do público de melhor filme estrangeiro na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo no ano passado, é um belo e competente filme que demonstra na moderação das emoções e na leveza da narração toda a sua qualidade e poesia.
Vermelho como o Céu (Rosso como il cielo)
Itália, 2006
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