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Rafael Teixeira

Como discernir o que é real ou não na vida de cada um de nós?

Fé.

Em Colheita do Mal, Katherine Winter (a atriz ganhadora de dois Oscar, Hilary Swank) é uma ex-missionária, que depois do assassinato brutal de sua filha e marido em um trabalho voluntário no Sudão, passa a desacreditar em milagres e qualquer assunto sobrenatural. Torna-se então uma cética professora universitária, que investiga casos de eventos “milagrosos”, desvendando o que realmente acontece por trás de cada um.

Mas tudo muda quando Doug Blacwell, professor da cidadezinha de Haven, requisita os serviços de Katherine para resolver uma série de acontecimentos similares as pragas do Antigo Testamento e cuja culpa, segundo os moradores, seria da menina Loren McConnell. Chegando em Haven, Katherine tem de proteger a criança da ira dos cidadãos, enquanto tenta descobrir o que está causando todas as pragas. No processo, porém, ela perceber que tudo parece bem mais real do que esperava. Se torna impossível distinguir verdades. E aí voltamos na pergunta do começo dessa resenha.

Colheita do Mal é um filme bastante interessante considerando seu gênero, o suspense sobrenatural. Ganha vários pontos por não exagerar na sanguinolência e nas mortes desnecessárias além de não colocar cenas de propósito questionável e que estimulam mais o riso do que o medo (como as cenas dos cervos em o Chamado 2). Claro que nesse filme não poderia faltar uma criança misteriosa. A história é consistente, com analogias interessantes e pertinentes, mas que provavelmente vai enfadar aqueles que odeiam a mistura religião/terror/Satã/eseufilhotambém. O filme com certeza é mais interessante e cativante do que outros dessa safra (não diria assustador, porque hoje em dia é difícil achar um filme que realmente assuste, a não ser Glitter).

Tornou-se comum também no gênero utilizar-se do carisma do ator protagonista (geralmente mulheres bonitas, fortes e quase sempre com cordas vocais resistentes), que é quem realmente se ferra em todas as cenas, mas que acaba o filme vivo, com direito a frase de efeito. No caso de Colheita do Mal, isso não funciona muito bem. Não que Hillary Swank não esteja bem no filme (segurem as turbas enfurecidas), só que qualquer um que já viu os seus trabalhos como Meninos não Choram e Menina de Ouro, sabe que Swank foi feita para grandes papéis, fortes, com profundidade psicológica e que realmente tomem toda a energia e esforço do ator. O papel de Katherine, portanto, parece muito comum para ela.

História tem lá seus clichês básicos, como o fato de Katherine se tornar dura e fria por causa de uma perda familiar. Mas aqui, essa relação é mostrada com certo cuidado pelo diretor Stephen Hopkins (A Vida e Morte de Peter Sellers), em fragmentos e imagens fortes. E claro, o segredo da trama é inesperado.

O final (e quando digo final, digo o último quadro a passar pelo projetor) poderia ter sido mais impactante no que diz respeito a música. O corte é muito seco, sem atrativos, deixando aquela espera por algo a mais.

A música do filme se encaixa perfeitamente com as cenas de suspense, e a montagem também é muito bem feita, cheia de cortes, e flashbacks que misturam realidade e sonho, uma mistura fluída, que confunde o espectador e que dará sentido ao final da trama. Katherine passa o filme inteiro transitando por essa linha tênue que divide esses dois mundos que ela obrigou a criar, um dos fatos, das verdades absolutas, e o mundo do sobrenatural, do divino, da religião. Um mundo também de muita dor para ela. Mas quando essa linha desaparece por completo, em que confiar?

A Colheita do Mal (The Reaping)

EUA, 2007

Direção: Stephen Hopkins Elenco: Hillary Swank, David Morrissey, AnnaShopia Robb, Stephen Rea. Duração: 96 min.