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Um é pouco, dois é bom e três...

Tatiane Ribeiro




Vamos combinar uma coisa: a gente faz um filme. Pode ser romance, ação, comédia ou sobre amizade, e se ele der certo, a gente faz uma trilogia! O que você acha? Não e tão difícil, vai... Com tantas trilogias por aí, ninguém nem vai reparar que nós não estávamos preparados para isso. Usamos os mesmos personagens, damos um toque de “evolução” e pronto, está feito!

Treze Homens e Um Novo Segredo é um filme feito entre amigos sobre amigos. Mostra que a camaradagem existe inclusive no mundo do crime. No mesmo esquema hotel de luxo, cassino absurdamente caro, milhões de dólares e a vingança que Danny Ocean (George Clooney, de Boa Noite e Boa Sorte) tanto adora, esse filme não foge em nada dos outros dois, onde um grupo de amigos cria uma estratégia mirabolante para conseguir ganhar milhões em uma operação de roubo que sempre é melhor e a mais ousada que Las Vegas já viu.

A grande novidade, que, aliás, está nas entrelinhas, é um sentimento de nostalgia que os personagens passam no decorrer do filme. Lembranças de uma Las Vegas que já não existem mais, de como começaram ou de como se conheceram, pincelam o filme de forma sutil com um sentimento de amizade diferente dos outros. Enquanto nos outros dois os amigos eram amigos ali, em Treze Homens, eles se mostram com um laço muito mais forte.

Além disso, não há como não dar os créditos de uma atuação mais uma vez brilhante de Al Pacino, que torna seu personagem, Willie Bank, “vilão estereotipado” (homem rico e sem escrúpulos, que só liga para sua fortuna) em um homem forte, cheio de pequenos truques e com um quê de comédia. Ele é a “bola da vez” no mundo de vingança dos onze amigos, que acham que ele deve pagar por ter passado Reuben (Elliot Gould) para trás em uma parceria para construção de um grande Cassino, e, por conta disso, ter ficado extremamente doente.

Não será fácil, mas como o desafio parece ser um dos combustíveis desses heróis às avessas, a questão da falta de dinheiro para financiar o grande plano em ação (Reuben era o mentor financeiro da turma) será resolvida com uma idéia de Linus (Matt Damon – Os Infiltrados): chamar Terry Benedict (Andy Garcia – Confidence) para entrar com a parte financeira. Vale lembrar que ele foi o rival dos amigos nos dois primeiros filmes, mas como não há fidelidade entre inimigos, o importante é destruir Bank.

A dupla sempre fascinante Danny e Rusty (Brad Pitt – Seven), seja pela beleza, seja pelo glamour, provou mais uma vez que não é mais uma dupla de rostinhos bonitos, em atuação convincente e até acima das expectativas para uma trilogia que, aparentemente, não tinha mais o que mostrar.

Sem uma personagem feminina forte, já que nem Julia Roberts nem Catherine Zeta-Jones aparecem, o romance fica apenas nas piadinhas entre os dois protagonistas (Danny e Rusty) de que eles realmente não têm sorte no amor (com direito a lagriminhas e Oprah).

Um é pouco. Dois é bom. Três é camaradagem. “Nós estávamos praticamente terminando o segundo filme, e eu pensei que seria muito divertido voltar a Las Vegas para um próximo filme. Em grande parte, Treze Homens aconteceu porque todos estavam querendo voltar a trabalhar junto de novo. Mas isso só aconteceria se fossem realmente ‘todos’ ou senão não iria acontecer – todos voltariam ou ninguém voltaria”, relatou Soderbergh.

E o trabalho de união é realmente a marca desse filme, já que foi criado até um clube para que, quando não estivessem em gravações, os atores e a equipe ficassem unidos. Esse clube foi apelidado carinhosamente de “The Ocean’s Club”.

Tentando achar uma palavra para acabar com as repetições, percebi que não há outra que descreva tão bem o clima que transborda na tela: camaradagem. O resultado? Apesar de ser realmente um filme para entretenimento fácil e apesar de não ser muito diferente dos outros dois, o filme nos faz querer sair e abraçar um amigo. E nos faz lembrar não dos momentos bonitinhos, cheios de clichês, mas sim daqueles que fazem parte da vida real e que realmente nos fazem olhar pra pessoa ao lado e chamar de amigo.

Quem disse que só podem ser amigos verdadeiros os heróis certinhos e “clichezentos”?

Treze Homens e Um Novo Segredo (Ocean’s Thirteen)
EUA (2007)
Direção: Steven Soderbergh

Elenco: George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon, Andy Garcia e Al Pacino Duração: 122 min.

Ao invés de se restringir em repetições, tanto a direção quanto o conjunto que compôs o filme resolveram optar pela sinceridade de assumir seu catarse, seu sentimento nostálgico. Talvez, por terem escolhido esse caminho, consigam exibir ao público, mesmo com repetições, atuações sinceras. Nessas horas, não interessa mesmo se o filme é ou não um blockbuster americano. Foi uma boa jogada.

O cliema de camaradagem está na car desde o primeiro longa. A diferença é que ela foi escancarada no segundo filme. E convenhamos, todos sabem da parceria entre Clooney e Soderbergh em fazer filmes comerciais, como essa trilogia, e investir os lucros em filmes mais densos e projetos arriscados, como Solaris e Bubble. Como disse em minha crítica: "em meio a tantas besteiras querendo ficar seu dinheiro, entregue-o a quem é honesto o suficiente de não esconder o fato de querer faturar e ainda te proporciona risadas genuínas, além de Al Pacino".
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