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Em busca (do sentido) da vida

Rafael Benaque

É no vale do rio Yangtze que se passa o filme “Em busca da Vida”. Nesse vale, inundado por causa da construção da hidrelétrica de Três Gargantas, se cruzam (de forma quase imperceptível) as histórias de Han Sinming, que trabalha nas minas de carvão, uma importante fonte de energia na China, e da enfermeira Shen Hong. Cada um busca nesse lugar, agora praticamente abandonado, seu passado e uma forma de seguir em frente.

Han Sinming, separado de sua mulher e sua filha há 16 anos, quer reencontrá-las. Para isso, abandona seu trabalho nas minas e migra para a cidade de Fengjie, onde vivia a família de sua mulher. Porém a cidade estava submersa. Depois de passar por diversos lugares, o homem encontra parte da família de sua ex-esposa e, para esperá-la, passa a trabalhar em uma empresa de demolições. Enquanto isso, Shen Hong tenta localizar seu marido, que partira há mais de 2 anos e trabalhava na região de Fengjie.

Quando cheguei ao Reserva Cultural para a pré-estréia de “Em Busca da Vida” encontrei o crítico Sérgio de Oliveira, que me disse: “Venho assistir esse filme de pé atrás. Já vi outras coisas desse diretor (Jia Zhang-Ke) e não gostei. É muito lento”. De fato, ele tinha razão: o filme é muito lento. Os diálogos são arrastados, com muitas pausas entre as falas. Em diversos momentos a câmera mostra uma paisagem estática e silenciosa sem que nada aconteça. A trilha sonora é ausente e pontual. Porém, nessa aparente falta de elementos e sons é que está o retrato da China rural: uma vida pacata, vazia, pobre, incerta.


Já no final do filme, Han e seus companheiros de demolição falam das condições de trabalho e dos riscos que correm para viver da forma que vivem. Além disso, a própria história das protagonistas mostra como é difícil a vida das pessoas que estão fora do círculo de Pequim. Porém, apesar dessa intenção de retratar a situação de uma porção quase feudal da China, o filme vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2006, é excessivamente lento e, para aqueles menos acostumados com o cinema oriental, cansativo.
Mas vale destacar o final: a última imagem que aparece na tela antes dos créditos finais resume com maestria o filme, as buscas, a vida.

“Em Busca da Vida” é um filme pouco acessível para a maioria dos espectadores brasileiros, acostumados com o padrão americano de cinema, mas merece ser assistido por aqueles que gostam de filmes que têm como objetivo algo além de entreter.

Em Busca da Vida (Sanxia haoren)
China, 2006
Direção: Jia Zhang-Ke Elenco: Han Sanming e Zhao Tao Duração: 107 min.