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Uma Prova de Fogo

Saulo Yassuda
Jane Fonda tentou boicotar o relacionamento entre Jennifer Lopez e Michael Vartan em “A Sogra”. Meryl Streep quase pôs fim ao namoro entre Uma Thurman e Bryan Greenberg em “Terapia do Amor”. Agora, em “Licença para Casar”, de Ken Kwapis (“Quatro Amigas e um Jeans Viajante”), é a vez de Robin Williams (dessa vez como reverendo) atrapalhar o casal formado por Mandy Moore e John Krasinski.

Ben (Krasinski) e Sadie (Moore) formam um casal de noivos que não vê a hora de se casar. Ele é um rapaz fofo que adora paparicar a namorada, e ela, uma garota (também fofa) que tem um grande sonho: casar na igreja. Mas não é tão simples assim. Quer se casar em uma determinada igreja: a St. Augustine. E com um determinado pastor: o Reverendo Frank (Williams). Para isso, então, Sadie e Ben terão um longo caminho pela frente.

É que o reverendo só aceita casar os dois se eles fizerem seu famoso – e peculiar – curso preparatório para noivos, em que o casal passa por situações das mais bizarras e constrangedoras como, por exemplo, cuidar de dois bebês-robô histéricos que fazem muitas orgias escatológicas, seguindo os métodos pirados de Frank.

O religioso faz questão de atordoar a vida do casal, proibindo o sexo entre eles, perseguindo-os secretamente em lugares públicos e até colocando escutas nos locais mais inusitados onde o estejam.

Depois de tanto desgaste e confusão causados pelo curso, Sadie e Ben entram em crise: Devem ou não continuar o relacionamento? (Pergunta que só será respondida, surpreendentemente ou não, na cena final do filme).

Fazer personagens malucos, como esse pastor que coloca escutas, é uma constante na carreira do talentoso Robin Williams, que está sub-aproveitado neste filme. Apesar do ator ter carisma próprio, sua personagem – que tem papel de importância no longa – não é bem desenvolvida e, em algumas passagens, chega ao cúmulo das situações de ridículo e da inverossimilhança . Se fosse bem desenvolvido, ótimas piadas poderiam sair do papel. A maior graça do filme está apenas nos créditos finais, em que são mostradas trapalhadas dos atores durante os bastidores das gravações.

Boas piadas é o que falta no roteiro de “Licença para casar”. A maioria da “diversão” pretende ser encontrada na escatologia ou nas tiradas de mau gosto, que reforçam preconceitos e estereótipos – como os relacionados a indianos e pessoas obesas. Eles demonstram um politicamente incorreto velado, que não chega a ser cômico, como em filmes mais “explícitos” (como “American Pie” e o mais recente “Borat”, por exemplo).


Uma série de situações inverossímeis e personagens mal trabalhados se arrasta até o final do longa, que não sabe bem o que quer: se tende mais para o romântico ou o cômico, se escracha de vez ou se fica tímido, ou mesmo se quer um equilíbrio disso tudo.

Em “Licença para casar”, a prova de fogo não é só aquela por que o casal passa, mas também a que passa o espectador, que pode se sentir aborrecido no meio do filme. Um filme talvez para aquelas tardes sem nada – nada mesmo – para fazer. Mas só.

Licença para Casar (Licence to Wed)
EUA, 2007
Direção: Ken Kwapis
Elenco: Robin Willims, Mandy Moore, John Krasinski
Duração: 100min