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O Tempo do Amor


Luiz Prado

Seh-hee é uma mulher perturbada. Após dois anos de namoro com Ji-woo acredita que não desperta mais interesse no parceiro. Descontrola-se quando ele conversa com outras mulheres e acredita que seu corpo já não o satisfaz. Certa noite propõe que façam sexo enquanto ele pensa em outra mulher. Ela se indigna quando ele confessa que o fez; ele acha absurdas as ações dela.

Emocionalmente abalada, Seh-hee decide que a única coisa a fazer é abandonar Ji-woo para que ele possa encontrar uma outra mulher. Contudo não deseja deixá-lo, e dessa forma concilia suas duas vontades fazendo uma cirurgia plástica, que lhe dá novos rosto e identidade. Após seis meses, já recuperada da operação, surge novamente na vida de seu amado.

Time é o 13º filme do diretor sul-coreano Kim Ki-Duk e revela o mesmo vigor de Casa Vazia e O Arco, suas mais recentes produções. Porém, a dialética entre a modernidade, representada pela tecnologia, e a filosofia zen-budista dos filmes anteriores é substituída pela abordagem dos sentimentos e a busca por calor humano num mundo onde é cada vez mais fácil achar companhia para uma única noite. Deve-se esperar pelo antigo amor se algumas horas no karaokê podem oferecer um corpo aquecido?

Desamparado, Ji-woo não consegue esquecer a namorada, mas busca conforto junto de outras mulheres. Até que encontra See-hee, garçonete de um café, visivelmente interessada por ele. Quando a relação entre os dois parece ter apagado a memória de Seh-hee uma carta surge anunciando seu retorno. Encontro marcado, Ji-woo se depara com See-hee, que usa uma máscara com o rosto de Seh-hee.

Kim Ki-Duk não retrata pessoas isoladas socialmente, como fez com o jovem arrombador de Casa Vazia ou os moradores do barco de O Arco. O diretor parece mais interessado em analisar como as pessoas se afastam do mundo quando se tornam obcecadas e divagar sobre até que ponto o desejo por outro pode nos fazer desistir da própria existência. Repleto de diálogos, inclusive dos protagonistas (inexistentes nas obras anteriores), o filme parece afirmar que a comunicação não depende do quanto falamos, mas de como nos entrosamos com as pessoas. De certa forma Ki-Duk contrapõe os personagens de Time com os de seus trabalhos anteriores, silenciosamente em comunhão uns com os outros.

Em diversos momentos da película temos a imagem de uma escultura. Esta se compõe de duas mãos cujos dedos se entrelaçam formando uma escada que leva ao nada. Ou à queda de volta ao solo. É nessa escada que estão os personagens de Time, abandonados a um ciclo de desencontros muito similar à regularidade dos ponteiros de um relógio.

Time
Coréia do Sul, 2006
Direção: Kim Ki-Duk. Elenco: Sung Hyun-Ah, Há Jung-Woo, Park Ji-Yeon, Kim Seong-Min, Kim Ji-Yeon. Duração: 96 minutos.