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Naquele dia ele escolheu entrar no Blog sala de projeção...

Amanda Demetrio

Começou a ler uma resenha sobre um filme qualquer, com a cabeça cheia de coisas do trabalho. Ele sabia que estava só passando o olho naquelas letras, tinha visto aquela menina que mexia com seu coração...

Esta é a idéia simples e genial do filme “Mais estranho que a ficção”. Harold Crick (Will Ferrell) é o confuso protagonista, neste estado porque descobre que é o personagem principal de um livro que está sendo escrito.

Harold ouve sua história ser contada por “sua autora”, Karen Eiffel (Emma Thompson). Ele consegue ignorar aquilo até ouvir “mal sabia ele...”, numa narração sobre sua possível morte.

Desesperado, Harold procura ajuda psiquiátrica. Diagnosticado como “esquizofrênico”, ele decide pedir a ajuda de um especialista em literatura, o professor Jules Hilbert (Dustin Hoffman).

Jules vai dar um toque de comédia para a história - e o melhor, um humor inteligente no estilo “Gilmore Girls”. O romance fica a cargo da personagem Ana Pascal (Maggie Gyllenhaal), que vai agir como questionadora das verdades estabelecidas por Crick em sua vida.

Num primeiro momento ninguém diz que Harold é capaz de amar uma mulher - ainda mais Ana - mas este filme não é nada do que parece “num primeiro momento”.

O nó que vai conduzir a trama é a busca pela vida (aquela bem vivida) de Crick, ao mesmo tempo que sua autora vive o dilema de não saber como “matá-lo”.

O roteiro é de Zach Helm, iniciante no mundo de Hollywood. Apesar de estar no
começo, sua história já está sendo colocada ao lado de grandes filmes como Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004). Eles brincam com a verdade e a ilusão.

“Vi Mais Estranho Que A Ficção como a história de um homem que esteve adormecido na maior parte de sua vida e de repente acorda, percebe que lhe resta pouco tempo e que ele tem que fazer algo que todos nós gostaríamos de algum modo – mudar a nossa história”, diz o diretor Marc Foster, que se encantou com o fato do protagonista questionar o jeito que cada um de nós monta nossa realidade.

Um dos possíveis defeitos do filme é a tentativa de usar efeitos especiais: a história é grande, nunca havia sido contada, não cabia enfeitar demais, aquilo deveria simplesmente acontecer. Algumas histórias têm vida e graça própria.

Will Ferrell é um dos destaques do filme. Acostumado a fazer comédias, o ator mostrou sua capacidade fazendo um personagem insípido, que vai ganhando gosto pela vida – e pelos biscoitos de Ana – aos poucos. Segundo Ferrell “Existe algo em relação à solidão silenciosa de Harold e a maneira como ele pula fora dela para viver a sua vida pela primeira vez que ressoou forte em mim, pois também tenho aquele lado quieto e às vezes preciso do mesmo ímpeto de sair”. Ele não é só risadas...

O leitor leu aquilo e ficou um pouco curioso, conferiu a agenda, pensou “não vai dar esta semana, quem sabe semana que vem?”, fechou a janela do blog. Mas o que ele não conseguiu foi parar de ouvir o maldito narrador, falando tudo o que ele fazia...

Mais estranho que a ficção (Stranger than fiction).
EUA, 2006
Direção: Marc Foster. Elenco: Will Ferrell, Maggie Gyllenhaal, Dustin Hoffman, Emma Thompson, Queen Latifah. Duração: 113 min.