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Não enlouquecer com a família é uma loucura

Rafael Teixeira


Família a gente não escolhe. Nem pai, nem mãe quanto mais irmãos. E aí todo dia é uma batalha para se ajustar as expectativas cada membro e sobreviver a cada briga.
Zachary (Marc-André Grondin) vive em um ambiente familiar onde se sente incompreendido. Quarto filho de um grupo de cinco, ele vive em conflito com o pai devido a seus gostos um tanto duvidosos e um tanto afeminados (seu jeito de vestir, sua predileção pelo antigo glam rock, etc.) e não consegue ser respeitado por nenhum do seus irmãos: Raymond, o filho mais velho, mulherengo, rebelde e desrespeitador; Christian, o estudioso nerd que não pára de ler; Antoine, o esportista, mal educado e briguento e Yvan, o caçula.
A mãe de Zach parece ser a única pessoa que o entende, e acredita piamente que por nascer no Natal, o filho possui um dom milagroso de cura. Mas nem mesmo Zach consegue saber quem ele é ou o que quer. E é sua jornada de descobrimento que o filme C.R.A.Z.Y (as iniciais dos cinco filhos) narra.
Zach se torna cada vez mais confuso sobre sua sexualidade, suas escolhas, seu comportamento. E todas as demandas que a sociedade parece cobrar o tornam ainda mais confuso e caótico, pontuando sua busca por autoconhecimento por uma autoflagelação íntima. Ele não se perdoa e nega a qualquer custo sua homossexualidade e isso só o faz colidir de frente com todos a sua volta.
Esse filme de Jean-Marc Vallée consegue mostrar com grande sensibilidade e profundidade a história de Zach e extrai grandes atuações de Michel Côté e Danielle Prouxl como os chefes da família Beaulieu. Os filhos infelizmente só se salvam por causa de Grondin como Zach e Pierre-Luc Brillant como Raymond, os outros não passam de estereótipos batidos.
O roteiro cativa, mas o filme talvez demore mais do que o necessário para chegar ao fim, tornando a auto-flagelação e negação de Zachary um pouco cansativao (você acaba pensando “porque o garoto não resolve ser feliz?”). Mesmo assim não deixa de ser um filme comovente sobre deixar de lutar para ser igual a todo mundo, para simplesmente ser você mesmo.

C.R.A.Z.Y. – Loucos de Amor (C.R.A.Z.Y.)
Canadá, 2005
Direção: Jean-Marc Vallée Elenco: Michel Côté, Danielle Proulx, Marc-André Grondin, Pierre-Luc Brillant. Duração: 127 min