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Uma jornada de amor e fé

Luiz Prado

A história é conhecida por muita gente: Maria (Keisha Castle-Hughes), menina pobre da pequena cidade de Nazaré, recebe a visita do anjo Gabriel, que lhe dá a missão de gerar o messias da humanidade, o filho de Deus, que será chamado de Jesus. O carpinteiro José (Oscar Isaac), marido da jovem, concorda em assumir a criança, após lhe ser indicado em sonhos o que deveria fazer.

Enquanto isso Herodes (Ciaran Hinds), rei da Judéia, está preocupado com as profecias acerca do surgimento de um homem pobre nascido em Belém que se tornaria rei. Institui então um senso que obriga todas as famílias a retornarem para suas terras natais. Dessa forma, José e Maria partem para a cidade natal do carpinteiro, Belém, e acabam na famosa manjedoura, junto dos três reis magos e dos pastores.

Jesus - A História do Nascimento faz parte da nova frente da indústria cinematográfica que encontrou na cristandade um espectador ainda pouco explorado pelos grandes estúdios. Porém, ao contrário de produções como A Paixão de Cristo e Crônicas de Nárnia, o filme dirigido por Catherine Hardwicke não parece buscar o grande público e aposta na força do seu roteiro e na fé dos cristãos.

Baseado no Evangelho de São Lucas, A História do Nascimento não apresenta grandes inovações na forma de contar a jornada dos pais de Jesus. Os trechos não existentes na obra do evangelista são comedidos e não entram em conflito com a versão oficial da Igreja sobre o assunto. O único destaque é para a história dos reis magos, que apresenta leve tom humorístico, tornando os personagens mais próximos do espectador.

As locações italianas e marroquinas, que incluem desertos e campos verdejantes, são belíssimas e foram aproveitadas de maneira competente, com boas tomadas de câmera. As reconstituições de Nazaré, Belém e Jerusalém também revelam o empenho da equipe técnica. A trilha sonora, que arrisca em certo momento uma versão de “Noite Feliz” com arranjos modificados, se não inova, cumpre seu papel de forma eficiente.

Porém na atuação da protagonista o filme perde sua força. Keisha não consegue viver o drama emocional de uma garota que carrega dentro de si o salvador da humanidade. Seus gestos são comedidos, suas expressões de medo e dúvida são pouco convincentes e a transformação de seus sentimentos por José, de apatia à gratidão e depois carinho, é feita de modo superficial. Isaac, por outro lado, surge como um José angustiado e ao mesmo tempo determinado. A cada olhar revela seu carinho por Maria e a indubitável certeza de que a união dos dois serve a um propósito maior.

Num balanço rápido, o filme surge como uma grande história bem contada, que poderia ser melhor se houvesse mais de ousadia no roteiro. Contudo, se na poltrona houver um cristão, A História do Nascimento pode se transformar. Na tela teremos um filme emocionante, que vai de encontro aos sentimentos de fraternidade, bondade e compaixão típicos da época do Natal. A coragem de Maria e José e a aceitação dos desígnios do Criador como exemplos de vida. Isso, como dito, se na poltrona houver um cristão.


Jesus – A História do Nascimento (The Nativity Story)
EUA, 2006
Direção: Catherine Hardwicke Elenco: Keisha Castle-Hughes, Shoreh Aghdashloo, Oscar Isaac, Ciaran Hinds Duração: 93 min.